Desvendando lendas, hoaxes e mitos da Internet desde 1999. Lendas urbanas, pulhas virtuais, boatos, desinformação, teorias conspiratórias, mentiras, vírus, cavalos de troia, golpes e muitas outras coisas que vagam pela Internet.
Lenda A Internacionalização da Amazônia, A página 76 de um livro inexistente e o FINRAF ou ainda O Brasil dividido ou Enquanto é tempo v.2. Livro falso. Intenções verdadeiras?
Outra versão da lenda O Brasil dividido faz referência a página de suposto livro escrito por David Norman intitulado An Introduction to Geography / SOUTH AMERICA. Segundo esse "livro", a Amazônia agora se chamaria FINRAF.
Tudo não passa de mais uma armação. Quer saber por quê? Bem...
Como costumava dizer o eminente cidadão de nacionalidade inglesa Mr. Jack the Ripper: vamos por partes.
Primeiramente: o livro existe? Pesquisando nas livrarias Amazon.com e Barnes & Noble não encontramos o tal livro de geografia.
Ao pesquisar na Amazon.com o título An Introduction to GeographyE o autor David Norman recebemos a seguinte resposta:
"we were unable to find exact matches for your search for david norman and Introduction to geography"
Pesquisando o autor David Norman recebemos 40 resultados e a maioria dos títulos trata de dinossauros, pré-história e temas correlatos. Há também livros sobre ressonância magnética, química e pássaros. Nada de geografia.
Portanto, a Amazon.com, considerada a maior livraria do mundo, não vende o tal livro. Talvez por desinteresse no tema. Talvez em virtude de o livro mencionado na mensagem não existir :~))
E na Barnes & Noble? Dinossauros, répteis, dragões voadores e coisas do gênero são abordados por Mr. David Norman, outros David e outros Norman.
Pois é. A mensagem fala de um "...livro didático ... amplamente difundido nas escolas públicas americanas para a Junior High School." Mesmo assim, apesar de "amplamente difundido", nem a Amazon nem a Barnes & Noble o vende. Livrarias chinfrins, essas livrarias ;-}
Em segundo lugar, que tal dar uma lida na página do suposto livro e ver como escreve o autor dela, dessa página? Já fizeram isso pra gente no artigo NOVA MENSAGEM FORJADA CIRCULANDO PELA INTERNET. Carlos Alberto Teixeira, o autor desse comentário, destaca 17 erros, alguns grosseiros, cometidos por quem escreveu o livro, ou melhor, por quem escreveu a página 76. Veja um deles.
O autor da página 76 escreveu "3.000 square miles" com ponto. Todo mundo sabe que os americanos usam vírgula para separar as casas de milhares. Quer dizer, todo mundo sabe, menos o autor e a editora do livro.
De qualquer forma, vale a pena perguntar: essa área de 3.000 milhas quadradas é significativa no contexto da Amazônia? Sem dúvida, mesmo correspondendo a apenas 0,5% das 600.000 milhas quadradas do maior estado brasileiro, o Amazonas. Ou a menos de 0,2 % da superfície total da Amazônia brasileira: 1,6 milhão de milhas quadradas.
Como é possível um autor de tantos livros sobre dinossauros escrever com tantos deslizes? O autor dos livros sobre dinossauros é outra pessoa? Então, como uma editora séria publicaria um livro tão mal redigido e com tantos erros de inglês?
Tem mais. Sugerimos uma olhada na diagramação do livro, no projeto gráfico dessa página. A página contida na mensagem tem o número 76. Setenta e seis é um número par e, portanto, corresponde ao verso, ou seja a página que fica do lado esquerdo quando se abre um livro. (A menos que o livro seja escrito para quem lê de trás pra frente.)
Há dois pontos a considerar.
Primeiro, a numeração da página.
A grande maioria das editoras usa uma das seguintes alternativas para numerar as páginas:
a) põe o número no centro das páginas pares e no centro das páginas ímpares;
b) põe os números ímpares no lado direito da página ímpar e os números pares no lado esquerdo da página par. Demos uma olhada em vários livros e não encontramos um só que invertesse as coisas.
Segundo: veja a "página do livro" e compare as margens esquerda e direita da página 76. (Clique na figura para vê-la ampliada.)
Olhou?
Viu como a margem esquerda, aquela que fica voltada para fora do livro, é muito maior que a direita? A margem esquerda é, pelo menos, três vezes maior que a margem direita. Isso não é comum, a menos que se use essa margem para indicar o nome do capítulo ou o conteúdo dele.
Curioso, não?
Como se vê, a pessoa que forjou a página não domina o idioma inglês e não possui nenhuma familiaridade com livros nem com a sua diagramação.
1. o tal "... livro didático "Introduction to geography" do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas americanas para a Junior High School..." não se encontra à venda nas duas maiores livrarias virtuais dos Estados Unidos. Isso não soa estranho para um livro 'amplamente difundido'?
2. o autor da página 76 usa um inglês estropiado para dizer as bobagens;
3. a diagramação da página 76 não obedece ao padrão de numeração usado pelas editoras;
4. a frase " Pois chegou as mãos de um amigo o livro didático 'Introduction ..." confirma uma das características das lendas: imprecisão na indicação da fonte que poderia comprovar a veracidade da história;
5. a última frase da mensagem não deixa dúvida: é mais uma pulha virtual.
No mais, continuam valendo os comentários sobre o interesse dos Estados Unidos no Brasil e na América Latina. Esses comentários estão na página que trata da outra bobagem: O Brasil dividido ou Enquanto é tempo.
Uma pergunta: o suposto geógrafo David Norman existe?
No Departamento de Geografia da Eastern Kentucky University - EKU em Richmond, Kentucky existe um professor chamado David N. Zurick. A letra "N" significa Norman. Seria ele o autor do tal livro?
Alguma confusão poderia ser criada pelo fato de o professor David Norman Zurick ministrar a disciplina 11033-GEO Introduction to Geography em um dos cursos da Eastern Kentucky University. No entanto, conferindo a web page e o currículo do professor Dave Zurick, como ele se apresenta, verifica-se que, na lista de suas publicações, não há referência a nenhum livro de introdução à geografia. Por que ele omitiria essa obra?
André, um dos nossos colaboradores, nos envia mensagem com alguns comentários sobre o ensino no Canadá e nos Estados Unidos e sobre livros didáticos utilizados nas escolas médias de lá.
Diz ele:
...tendo uma filha na escola sei que os livros que ela recebe não existem em nenhuma livraria, ... ... Acredito que o ensino no país vizinho seja parecido com o nosso aqui [Canadá] , portanto você não vai encontrar o livro senão na escola, e mais: dificilmente poderá trazê-lo para casa.
Uma das explicações do porq toda escola americana tem armários nos corredores para os alunos. Esses livros ficam nas escolas servindo, por anos, a muitos alunos
Acrescente-se: mesmo que o tal livro exista e seja de circulação restrita, fica difícil acreditar que uma boa escola publique e distribua com os seus alunos um livro tão mal escrito.
Mensagem com nova versão dessa lenda voltou a circular em maio de 2002. Leva o nome de um senador e não dá pra saber se o senador é o autor (pouco provável) ou o destinatário dela. De qualquer forma, a menção ao nome de um senador dá uma falsa credibilidade a ela, mesmo porque o nome do senador é grafado de forma incorreta: Maquito em lugar de Maguito (Maguito Vilela, PMDB-GO).
Essa nova versão mistura informações falsas (a página 76 do livro inexistente) com suspeitas e menciona até Osama Bin Laden, acusado de ser o autor intelectual dos atentados ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001.
Sobre a internacionalização não só da Amazônia, como também dos recursos pertencentes aos países do mundo, vale a pena ler o artigo do pernambucano Cristóvam Buarque, senador, ex-ministro da educação, ex-reitor da Universidade de Brasília e ex-governador do Distrito Federal. Clique aqui e veja o que mais se deveria internacionalizar. (Artigo publicado no jornal O Globo em 23 de outubro de 2000.)
As coisas se misturaram e, em janeiro de 2003, o artigo de Cristóvam Buarque passou a circular na Internet com a observação:
OBS: ESTA MATÉRIA FOI PUBLICADA NO NEW YORK TIMES/ WASHINGTON POST, TODAY E NOS MAIORES JORNAIS DA EUROPA E JAPÃO. NO BRASIL ESTA MATÉRIA NÃO FOI PUBLICADA. AJUDE- NOS A DIVULGÁ-LA...
Não há registro de que o artigo tenha sido publicado nos jornais mencionados. Conforme dito no parágrafo anterior, o artigo original foi publicado no Brasil pelo jornal O Globo em 23 de outubro de 2000.
Em Dossier Amazônia: anatomia de uma fraude Paulo Roberto Almeida, Ministro Conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington, apresenta dossier detalhado dessa história. Traz, inclusive, mensagens trocadas com pessoas que acreditam na fraude (e, certamente, também acreditam em Papai Noel, na cegonha, no chupa-cabra, no ET de Varginha .... ;-)))
Lendo as mensagens transcritas, é interessante notar como, às vezes, uma consulta ou uma dúvida é posta de tal forma que ela chega ao leitor como uma afirmação categórica. Daí a se formar uma convicção não demora nada e esse tema, muito sensível, é capaz de mexer com sentimentos e brios de pessoas pertencentes aos mais amplos espectros políticos: desde a direita extremada do "Brasil: ame-o ou deixe-o" até os mais ferrenhos comunistas comedores de criancinhas. (Dizem por aí que há, apenas, dois sobreviventes comunistas na Terra: Fidel Castro e um arquiteto brasileiro. Deve ser intriga da oposição ;)
Em outubro de 2003, a mensagem voltou a circular em nova versão que traduz FINRAF por PRINFA (deve ser prima da Finraf :). Como contribuição à lenda, é adicionada uma HORRORIZANTE TRADUÇÃO DO TEXTO QUE ESTÁ AO LADO DO MAPA (sic). Veja a horrorizante tradução.
O professor João Batista do Nascimento, da Universidade do Pará, nos envia mensagem com reprodução da página de um livro que traz imagem semelhante à do suposto livro de geografia. Não se trata de um livro norte-americano, mas de livro editado no Brasil: Novo Tempo (Imenes, Jacuko e Lellis, editora Scipione, vol 4).
A prova tem como título Vestibular 2009 UFBA Matemática, Ciências Humanas e Língua Estrangeira, Primeira fase, Cursos de Progressão Linear e a questão de número 17 assim se apresenta:
Questão 17
A Amazônia brasileira abrange mais da metade do território nacional. Segundo alguns autores, ela é definida pelo domínio da floresta latifoliada equatorial, juntamente com o clima equatorial; segundo outros, pelo domínio da mais densa bacia hidrográfica do globo — a bacia Amazônica. Trata-se de uma parte da Amazônia sul-americana. A natureza ainda domina nessa área, mas o processo de ocupação e povoamento tem sido intenso nas últimas décadas. O extrativismo vegetal que era a atividade econômica mais importante, até por volta de 1970, hoje é uma atividade de importância cada vez menor, diante do crescimento da agropecuária, da mineração e da industrialização. A Amazônia brasileira deixou de ser a “floresta impenetrável”, descrita nos romances e relatos de viagens, para se tornar um enorme problema ambiental e social que atrai a atenção de todo o mundo. (VESENTINI, 2005, p. 305-307).
Com base na análise do mapa, na leitura do texto e nos conhecimentos sobre a Amazônia brasileira e sul-americana, pode-se afirmar:
(01) A Amazônia corresponde a uma imensa região sul-americana, que abrange dois hemisférios, envolvendo parte da América Andina, o Brasil, além da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa (Departamento de Ultramar Francês).
(02) A Região Norte, uma das cinco da atual divisão regional do Brasil elaborada pelo IBGE, corresponde à mesma porção territorial da Amazônia Brasileira e da Amazônia Legal.
(04) Os elementos naturais da Amazônia são interdependentes, sendo que a exuberante vegetação desempenha papel essencial nesse ecossistema, protegendo e nutrindo o solo e mantendo elevada umidade atmosférica, na sua maior parte.
(08) A Amazônia tradicional caracterizava-se pela presença de alguns tipos humanos, como posseiros, grileiros, jagunços, peões e arrozeiros, enquanto, na Amazônia atual, há predominância de seringueiros, seringalistas e grupos indígenas.
(16) O crescimento econômico da Amazônia Brasileira ocorre à custa do aumento da pecuária extensiva, do avanço da agricultura, das ações ilegais dos madeireiros e de pressões urbanas para a realização de obras de infra-estrutura, atividades de grande impacto ecológico.
(32) As planícies e os baixos platôs — predominantemente cristalinos —, situados ao longo das margens do rio Amazonas, formam o principal aspecto geomorfológico da região e explicam o grande aproveitamento hidrelétrico.
(64) O projeto Grande Carajás, no Pará, possui importantes jazidas de ferro e outros minerais e envolveu a construção de uma ferrovia entre a zona mineradora e o porto de Itaqui, no Maranhão, para exportar esses produtos.
UFBA/2009 – CPL – 1ª Fase – C. Humanas
O mapa ao qual se refere a questão tem como título AMAZÔNIA INTERNACIONAL e é este:
Para a UFBA, portanto, a Amazônia Brasileira, bem como a dos países vizinhos já se encontra internacionalizada. E é isso que as novas gerações que passarem pela UFBA deverão aprender.
O livro é falso, mas a prova da UFBA é verdadeira.
Veja também o curta metragem O Dia em que o Brasil Foi Invadido:
Um dos textos mencionadls é de Larry Rohter jornalista norte-americano,
Sobre o 'interesse' dos EUA pelo Brasil vale a pena conhecer o caderno especial Documento publicado no Diário de Pernambuco em 30 de agosto de 2006. Nele, o jornalista pernambucano Vandeck Santiago traz algumas revelações interessantes. (V. "O plano de Kennedy para o Nordeste", Diário de Pernambuco, Recife, 30 de agosto de 2006.)
Dessa documentação consultada por ele [historiador Moniz Bandeira] faz parte um informe encaminhado a João Goulart pelo SCIFI (o serviço de informações do governo) sobre um campo de pouso clandestino em Teresina - PI, que faria parte, segundo Bandeira, de uma 'operação especial' organizada pela CIA para a eventualidade de uma invasão."
Mais adiante (mesma página), sob o título Armas e infiltração, Santiago acrescenta:
"1) À meia-noite de 16 de julho de 1963 um misterioso submarino chegou à costa pernambucana. Era norte-americano, prefixo WZI-0963, seu comandante provavelmente chamava-se Roy [...]. Desembarcou em Pernambuco 750 brazucas (sic), revólveres, espingardas e granadas, que foram transportadas para estados do nordeste. Generais brasileiros, reformados, estiveram no desembarque. [...]
"A chegada de armas já era, em si, um fato grave. Mais ainda porque parte delas era fabricada na Tcheco-Eslováquia, na época um país comunista. O que diabos armas tchecas estariam fazendo num submarino americano? A suposição: era uma tentativa de provocação. Para que — quando necessário — fossem 'apreendidas' e mostradas como prova de que os comunistas estavam armando revolucionários nordestinos'"
Todos nós já ouvimos falar que os americanos querem transformar a Amazônia num parque mundial com tutela da ONU, e que os livros escolares americanos já citam a Amazônia como floresta mundial.
Pois chegou as mãos de um amigo o livro didático "Introduction to geography" do autor David Norman, livro amplamente difundido nas escolas públicas americanas para a Junior High School (correspondente à nossa sexta série do 1ºgrau).
Olhem o anexo e comprovem o que consta a página 76 deste livro e vejam que os americanos já consideram a Amazônia uma área que não é território brasileiro, uma área que rouba território de oito países da América do Sul e ainda por cima com um texto de caráter essencialmente preconceituoso.
Vamos divulgar isso para o maior número de pessoas possível a fim de podermos fazer alguma coisa ante a esse absurdo...
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