Tudo corria bem na Pliant Corp, fábrica de plástico para embalagens da cidade de Dalton, Geórgia - USA: quase dois anos sem nenhum acidente. Todos os dias os funcionários da empresa, orgulhosos, afixavam na roupa adesivo indicando o número de dias de trabalho sem acidente.
Até que o calendário marcou seiscentos e sessenta e cinco dias sem "acontecimento infeliz capaz de provocar afastamento temporário ou permanente do trabalho".
O que era bom e digno de comemorar se transformou em dois problemas: para um dos funcionários, que perdeu o emprego, e para a empresa que terminou sendo levada à justiça.
Como todos sabem, depois do número seiscentos e sessenta e cinco vem o seiscentos e sessenta e seis.
Simples assim.
Mas não tão simples para um dos funcionários que, como os demais, não havia se acidentado ao longo de mais de vinte meses. Billy E. Hyatt, cristão fervoroso, já há algum tempo se mostrava estressado, preocupado com a chegada do dia fatídico: aquele que marcaria os seiscentos e sessenta e seis dias sem acidente.
Pois chegou o 6660 dia sem acidente e, como em todos os dias anteriores, os funcionários teriam de pôr o adesivo com o número de dias sem acidentes. E todos fizeram isso: colocaram o adesivo.
Quer dizer, todos não.
Billy E. Hyatt, o cristão fervoroso, se recusou a afixar o número 666 na sua roupa. Alegou que, colocando o adesivo, seria condenado à danação eterna, algo para ele indesejável. A sua religião proíbe o uso do que ele chama de "a marca da besta". É o que diz o Livro da Revelação da Bíblia.
Apocalipse 13:16-18
18 Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.
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Outras versões asseguram que o número dessa entidade é 616 e não 666. Se assim for, Mr. Hyatt teria usado, inadvertidamente, o número da fera cinquenta dias antes.
Billy Hyatt começou a trabalhar na empresa em junho de 2007 e, em agosto de 2009, quando o calendário se aproximava do número fatal de dias sem acidentes, ele teria procurado o seu chefe comunicando o receio de usar o adesivo e sofrer, como consequência, a punição maior: passar a eternidade no inferno. E isso não interessava a ele.
O gerente não se comoveu com o argumento do empregado e disse que se ele não usasse o adesivo ou se faltasse ao trabalho, ganharia três dias de suspensão.
Pelo que diz o noticiário, Hyatt faltou ao trabalho no dia 12 de março de 2009 e foi suspenso. Cinco dias depois, foi demitido.
Stephen Mixon, advogado do empregado, alega que a empresa, agora denominada Berry Plastics Corp., colocou o seu cliente em um dilema terrível: ou manter o emprego ou abandonar a sua fé. Tendo preferido se manter na fé e por não querer ir para o inferno, ele foi para a rua.
O advogado acrescenta que houve perseguição religiosa. Se o empregado faltasse naquele dia por outro motivo, e certamente algum empregado deixou de comparecer ao trabalho naquele dia, nada aconteceria, mas como já havia explicado ao gerente a razão da ausência, então houve discriminação.
Para minorar o prejuízo, Mixon pede o pagamento dos dias descontados e mais algum dinheiro como compensação por danos morais. E os honorários dele, of course.