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Meia-verdade Ar condicionado no carro causa câncer?

Mensagem que circula desde junho de 2009 alerta para o risco de se contrair câncer em consequência do ar-condicionado dos carros.

Tudo indica que o texto foi publicado originalmente em maio de 2009 no blog de amenidades Purplerose sob o título Car Airconditioning Alert!. A partir daí, ganhou páginas da web e passou a circular em mensagens.

A página do blog, que também exibe sexy photos, contém diagramas de sistema de ar-condicionado instalado em veículos. Os diagramas são bonitos, enfeitam a página, mas em nada ajudam a explicar as emanações do benzeno nem tampouco os seus efeitos maléficos no organismo humano.

No Brasil, circulam duas versões. Uma foi traduzida do inglês para o português lá em Portugal e a outra foi traduzida por aqui mesmo. A diferença encontra-se em algumas palavras de uso pouco frequente no Brasil como, afecta, cancro e tubagens. No português brasileiro, usam-se as palavras afeta, câncer e tubulação.

É verdade que o benzeno é substância tóxica e os seus vapores são capazes de produzir irritação nos olhos, garganta e nariz. A exposição constante acima dos limites toleráveis pode produzir doenças como o câncer e é bom lembrar que, segundo a Organização Mundial da Saúde, não existem níveis toleráveis para substâncias carcinogênicas.

A principal afirmação sem fundamento é que

De acordo com pesquisas

O autor esquece de dizer que pesquisas foram essas, quem as realizou, onde foram realizadas.

 

o painel de instrumentos, assentos e tubagens de refrigeração emitem benzeno,

É verdade que o benzeno é usado na fabricação do plástico e da cola usados no interior do carro, mas na fabricação das tubagens, ou tubulações, do ar-condicionado usam-se metais. Se existir alguma emanação do benzeno ela será originada do plástico e das colas. O compressor, a tubulação e o trocador de calor nada têm a ver com o benzeno nem com o câncer.

 

O nível aceitável de benzeno dentro do carro é de 0,05 gr por cm2.

Tal afirmação deixa a desejar em termos de precisão. O correto seria estabelecer uma relação por centímetro cúbico e não por centímetro quadrado.

 

com as janelas fechadas contém 0,37 a 0,74 mg de benzeno.

Consideremos que o autor quis dizer grama por centímetro cúbico e para facilitar os cálculos tomemos 0,5 - o valor médio entre 0,37 e 0,74.

Nesse caso teríamos 5 gr de benzeno por litro de ar. Considerando que um carro de tamanho médio possui volume interior de, no mínimo, 1.000 litros isso daria 5 kg de benzeno dentro do carro.

Os vapores do benzeno são explosivos e tal carro seria uma bomba ambulante, um carro-bomba. Não importa que ele tenha ar condicionado ou não :)

 

Se estacionado em área externa, sob o Sol, a uma temperatura superior a 16ºC,

Para atingir os dezesseis graus Celsius não é necessário que o carro se encontre estacionado sob o sol. Pelo menos aqui no Brasil, em qualquer cidade e durante boa parte do ano, ter-se-á mais de 16º C à sombra. Estando o carro exposto ao sol, o interior dele pode facilmente atingir os 60º C. Nesse caso, a emissão de benzeno seria aumentada?

Imaginando que a emanação do benzeno seja decorrente de temperatura acima de 16º C: o que dizer da segurança em casa e em escritórios que utilizam móveis forrados com plásticos? Fica difícil imaginar alguém regulando o termostato do ar-condicionado para manter a temperatura de 16º C a fim de evitar o benzeno evaporado dos plásticos, colas e tintas.

 

Recomenda-se que abra os vidros e porta para sair o ar quente interior antes que entre no carro.

É bom não levar ao pé da letra tal recomendação. Dependendo do local onde o carro estiver estacionado, o risco de ser assaltado é muitas vezes superior ao de contrair câncer. Quanto a abrir a porta antes de entrar no carro, essa é uma sugestão muito válida e que não deve ser esquecida. Jamais :)

O benzeno pode ser encontrado em casa e nos escritórios - especialmente em construções recentes -, dentro do carro e também ao ar livre nas grandes cidades em consequência das emissões dos motores dos automóveis. A fumaça do cigarro contém benzeno. E o benzeno pode provocar doenças.

O benzeno é usado na indústria como matéria prima do náilon, da borracha sintética e de detergentes. Ele encontra-se nas refinarias de petróleo, siderúrgicas, fábricas de calçados e em outros setores onde é utilizado como solvente (v. Seminário...).

Segundo a ANVISA, "...a via mais comum de exposição à substância [benzeno] é a respiratória sobretudo em áreas de tráfego intenso, proximidades de postos de gasolina ou onde haja grande concentração de fumaça de cigarro."

 

Carro novo pode dar dor de cabeça Essa é a conclusão de pesquisadores da CSIRO, Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation da Austrália. Segundo eles, o interior de carros novos pode conter: benzeno, acetona, ciclohexano, etilbenzeno, estireno, tolueno entre outras substâncias. Experiências submeteram pessoas a um ambiente semelhante ao interior de um carro novo contendo mistura de 22 componentes. Essas pessoas sofreram desconforto, tontura, fadiga, irritações nos olhos, nariz ou garganta e dores de cabeça. Resultados apresentados em dezembro de 2001.

 

Conclusão: o benzeno é substância carcinogênica. A degradação do plástico e a transformação de suas emanações em benzeno não estão comprovadas.

Pesquisas recentes não encontraram indícios de que o "cheiro de carro" provoque câncer nem tampouco que a presença de benzeno ocorra em níveis prejudiciais, apesar do alerta da OMS. No entanto, pessoas mais sensíveis podem sentir alguma reação a esses odores, especialmente em carros novos.

E o ar-condicionado? Como ele entrou nessa história? Ele nada tem a ver nem com o benzeno nem com o câncer. Seja como for, é sempre bom deixar entrar um pouco de ar do exterior para refrescar o carro, desde que isso não comprometa a segurança dos seus ocupantes. Lembrando também que em locais de trânsito intenso e em lugares com muita fumaça de cigarro a concentração de benzeno é muito maior do que no interior do carro. Com ou sem ar-condicionado.

Mensagem original.

Versão de janeiro de 2011.

Versão de novembro de 2011.

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