Desvendando lendas, hoaxes e mitos da Internet desde 1999. Lendas urbanas, pulhas virtuais, boatos, desinformação, teorias conspiratórias, mentiras, vírus, cavalos de troia, golpes e muitas outras coisas que vagam pela Internet.
A lenda do Papa-Figo, associada ao canibalismo humano, é um das mais aterrorizantes do Recife PE. Ainda hoje, empregadas ameaçam as crianças mais levadas da breca: “se você sair daqui, o papa-figo ‘te’ pega”. Figo é corruptela de fígado.
O Papa-Figo é descrito como uma criatura horrenda. Tez escura, grandes orelhas com os lóbulos crescidos e caídos, ele veste andrajos mal-cheirosos e sempre leva um saco de estopa pendurado nas costas onde carrega as crianças que captura.
Crianças arrebatadas têm o fígado retirado e comido pelo próprio Papa-Figo ou são por ele vendidas a leprosos ricos. Durante muito tempo, pessoas de sobrenome conhecido no Recife eram tidas como freguesas fiéis dos papa-figos.
A crença de que fígado de criança cura a lepra vem de longa data. Segundo Câmara Cascudo,
“Na terapêutica contra a lepra, o banho do sangue humano e a degustação do fígado, especialmente de crianças, são remédios tradicionais.
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"Existe, com dezenove séculos de autoridade popular, a tradição galênica dando ao fígado um predomínio quase absoluto no organismo humano.
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"Comer fígado sadio para curar o fígado doente e determinar a formação de um sangue puro é a idéia obstinada dos leprosos."
É o princípio similia similibus curantur levado ao extremo.
Canibalismo no cinema
Hannibal Lecter, personagem de Anthony Hopkins em Silêncio dos inocentes (Silence of the lambs, Jonathan Demme, 1991), foi a um concerto, não gostou da forma como o violinista tocava e comeu o fígado dele.
Vinheta para Silêncio dos Inocentes.
Qual o destino de Frank Bennet em 'Tomates Verdes Fritos'? (Fried Green Tomatoes, Jon Avnet, EUA, 1991.)
Canibalismo na Alemanha
Caso real de canibalismo ocorreu na civilizada Alemanha e foi protagonizado por profissional de computação. Não se trata de caso de canibalismo cujo antropófago é habitante de ilha longíqua ou de interior deserto de terras incivilizadas, mas de habitante da Alemanha, terra de Bach, Hegel e Einstein. (E também de Hitler, de Goebbels e de outras aberrações como o canibal Meiwes.)
Em 2001, o alemão Armin Meiwes matou Bernd-Jurgen Brandes a quem conheceu através de anúncio respondido por cerca de 400 homens interessados em canibalismo. O anúncio foi divulgado através da Internet e Brandes foi selecionado para o festim diabólico (V. Alfred Hitchcock :)
O noticiário registra que o assassino matou Brandes com o consentimento dele e antes de morrer os dois comeram o pênis, decepação também consentida. Segundo Canibal alemão é condenado à prisão perpétua, Meiwes afirmou "... que não havia gostado muito do membro assado, apesar de tê-lo condimentado adequadamente, e que ambos haviam achado a carne muito difícil de se mastigar."
Armin Meiwes, considerado pelos vizinhos como pessoa cordial, atenciosa e educada, foi condenado à prisão perpétua.
Câmara Cascudo, Luis. Geografia dos mitos brasileiros. Segunda edição. Rio de Janeiro, J. Olympio, Brasilia - INL, 1976.