| Verdade? Mensagem subliminar no comercial da nova cerveja Schin
|
Mensagem subliminar, especialmente em propaganda comercial, não é exatamente uma novidade e da próxima vez que a cerveja Schin aparecer na TV preste mais atenção. (Comercial veiculado nas emissoras de TV em setembro de 2003.)
Comercial da nova cerveja Schin. No vídeo, surgem famosos, atrizes, atores e celebridades (o que quer que 'celebridade' signifique :-).
Em um bar, o garçom traz a cerveja. O cliente olha pra cerveja e fala demonstrando contrariedade: "O que é isso, cara?"
O cliente reluta em beber e todo mundo que se encontra no bar, inclusive o garçom, grita: "Experimenta! Experimenta!". | |
Sem muita convicção, finalmente o contrariado cliente toma um gole. Parece aprovar o sabor e, em seguida, ele e a 'galera' saem em passeata gritando o refrão "Experimenta!"
A passeata tem um destino certo: o refúgio do bebedor de cerveja, sambista e pagodeiro, o carioca Zeca Pagodinho.
O cantor encontra-se num bar enquanto o garçom lhe serve uma cerveja. Ou melhor, tenta servir. O garçom parece argumentar enquanto o famoso cliente se recusa a beber a cerveja sugerida.
A certa altura, do meio da multidão surge um rapaz que vê a cena e fala "Peraí, peraí. Deixa comigo". O rapaz se aproxima do Zeca, fala algo, gesticula, mas não dá pra entender o que ele diz. O Zeca bebe um gole da cerveja.
O locutor fala alguma coisa sobre a cerveja e depois uma garota pergunta ao rapaz que se aproximara do Zeca: "O que é que tu falou pro cara?"
"Uai, eu virei pro cara e falei: Experimenta! Experimenta!"
Fica a pergunta: foi isso mesmo o que o rapaz falou pro Zeca?
Não parece não. | |
Um curioso se deu ao trabalho de isolar o trecho da fala do rapaz que se aproxima do Zeca. Gravou o trecho e passou ao contrário, da forma como foi gravado originalmente.
E o que se ouve? Não está muito nítido, mas dá pra se perceber o que o rapaz fala:
Vê se tu bebe isso aí agora, cara ou eu pego essa garrafa e enfio no seu rabo... (mais alguma coisa ininteligível). |
Confira. Veja o clip original no saite do fabricante da cerveja e o trecho da fala do rapaz. Tire as suas próprias conclusões. Veja o trecho do vídeo com a frase falada sem a inversão.
Pode parecer divertido, mas há dois aspectos a considerar.
Um deles é o apelo para experimentar bebida alcoólica que pode induzir crianças e adolescentes a 'cair nessa onda' de experimentar. Isso não tem nada a ver com subliminar. É explicitado, sem nenhum pudor, ao longo do comercial.
Outro aspecto é o uso, na propaganda, de recursos da mensagem subliminar, muito embora o nível escatológico da mensagem em análise não deva produzir muitos resultados devido à grosseria e ao mau gosto da ameaça. (Se é que a chamada propaganda subliminar produz, efetivamente, os efeitos propalados.)
O trecho em áudio reverso pode ser tomado como algo semelhante aos famosos 'ovos de páscoa' (os gringos chamam de easter eggs) que os programadores de computador inserem nos programas que eles fazem. Uma brincadeira. O bom ou mau gosto depende do ponto de vista.
Tem gente pegando carona nessa 'onda' e pedindo explicações ao fabricante da cerveja e aos produtores do comercial, não pelo pedido de 'experimenta', mas pelo 'rabo' posto ao contrário (que horror!).
Bom seria se essa onda de pedir explicações se estendesse um pouco e abrangesse terrenos mais sérios e relevantes e se pedissem também explicações sobre as supostas irregularidades que levaram à renúncia de um presidente da república. Tudo caiu no olvido, como diria um bolerão ou um tango bem cansado.
Também seria interessante ouvir as explicações dos anões do orçamento, ouvir as explicações sobre os precatórios, sobre a privataria.
E tem também aquela história da quebra de sigilo do painel de votação do Senado Federal.
Todos inocentes.
Mas parece que nada disso importa. O que conta mesmo é o rabo posto ao contrário, o áudio reverso.
Ou o rabo reverso :)
James Vicary e a fraude da pipoca. Em 1957, o publicitário James Vicary declarou haver intercalado letreiros em um filme e por conta disso teria havido aumento significativo nas vendas de pipoca e de Coca Cola. Segundo ele, os letreiros continham as frases "Drink Coca Cola" ou "Hungry? Eat popcorn".
Traduzindo: "Beba Coca Cola" e "Está com fome? Coma pipoca."
O experimento teria ocorrido na cidade de Fort Lee, Nova Jersey - USA, e o filme enxertado chama-se Picnic (Dir. Joshua Logan, 1955, com William Holden e Kim Novak). No Brasil, o título do filme foi traduzido para Férias de Amor.
O filme enxertado, projetado durante seis semanas, produziu o aumento do consumo do refrigerante em 18,1% e o consumo de pipoca aumentou 57,8%. Cerca de quarenta e cinco mil espectadores receberam a mensagem. Foi o que afirmou Vicary.
O nome do cinema onde teria ocorrido a tal projeção jamais foi revelado. Sabe-se, no entanto, que em 1957 havia apenas um cinema na cidade: Lee Theatre. Mesmo hoje Fort Lee - NJ é uma cidade pequena, com apenas 36.000 habitantes.
 Fort Lee Theater (demolido em 1973).
Como os letreiros foram intercalados? Teria o rolo de celuloide sido cortado para a inserção deles?
Vicary usou equipamento chamado taquicógrafo ou taquicoscópio, algo semelhante a um projetor de slides,
"que revela um único slide na velocidade de 1/3.000 de segundo. Este aparelho foi acomodado junto ao projetor do filme e repetiu, a cada cinco segundos, para simular o movimento, uma imagem justaposta à fita exibida." (1)
Mais tarde, o próprio Vicary revelou se tratar de uma fraude, mas o medo de "contaminação subliminar" alastrou-se, principalmente devido ao receio de que Moscou poderia estar usando esse tipo de propaganda para solapar as bases da civilização ocidental e cristã (!) e o "american way of life".
A guerra fria, iniciada logo depois da rendição da Alemanha em maio de 1945, estava em seu auge e o medo era muito grande. A qualquer momento, a então URSS poderia atacar e se o povo dos Estados Unidos estivesse fragilizado devido à propaganda comunista, por meios subliminares, o país estaria perdido.
O suposto experimento de Vicary produziu abalo tão grande que a CIA elaborou o documento intitulado "The operational potential of subliminal perception". O documento pode ser encontrado no sítio da CIA, tendo sido liberado em 1994.
Foi uma fase de paranoia e, nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado, foram fabricados cerca de quinhentos mil equipamentos de detecção de radiação, os CDV 777 e CDV-715, por exemplo, ainda hoje vendidos como relíquia da guerra fria. O contador Geiger foi um excelente negócio para os seus fabricantes. Quanto maior o temor, maior o faturamento.
Os contadores comprados pela população serviriam pra identificar a ocorrência de radiação dos tipos Beta e Gama produzida por bomba atômica lançada pelos comunistas.
O fato é que o suposto experimento jamais foi replicado, nem por Vicary nem por qualquer cientista, de modo que, não havendo comprovação dos fatos relatados, restaram ao mundo apenas o engodo do publicitário e o incremento do medo de um país ser transformado em zumbi pela propaganda subliminar comunista.
Segundo Subliminal advertising... o experimento jamais existiu, Vicary forjou os resultados e tudo não passou de mais uma fraude científica. Em 1962, o próprio publicitário afirmou, em entrevista à revista Advertising age, que tudo foi uma armação.
Até hoje, não existem estudos científicos que comprovem a persuasão subliminar. No entanto, existem no mercado centenas de kits de autoajuda, em vídeo e em áudio, baseados em mensagens subliminares. Apesar de amplamente divulgado o logro, os vendedores ainda citam James Vicary como o criador dessa "técnica". |
Os leitores comentam.
Veja também o Bahia Brau "EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA!" que fez a descoberta.
Atualizado em 11 de dezembro de 2012 | Siga pulhas virtuais no Twitter
Serviço Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos Netiqueta
Dicas Arquitetando Coelhos e coelhinhos Deixando Rastros Guia do rock! Refletindo |